O nome Tiago deriva do latim Iacobus, por sua vez uma latinização do nome hebraico Jacob (aportuguesado em Jacó).
Com o decorrer do tempo, o nome evoluiu em diversas direcções consoante as línguas: manteve-se Jakob em alemão e noutras línguas nórdicas, James em inglês, Jacques em francês.
Na própria Espanha há diferenças substanciais: a oriente, tornou-se Jácome, Jaume ou Jaime, todas formas correntes no catalão.
Na faixa ocidental da Ibéria tornou-se simplesmente Iaco ou Iago, por queda da terminação -bus, e assim passou ao português, galego, leonês e castelhano.
Santo Iago, na pronúncia corrente, tornou-se Sant’Iago, originando-se a partir daí São Tiago, e o moderno antropónimo em português e castelhano.
Para além disso, em castelhano, por uma falsa etimologia, Santiago derivou também para San Diego, originando assim também o nome Diogo.
Segundo o Novo Testamento, Tiago era filho de Zebedeu e Salomé, e irmão do apóstolo São João Evangelista.
Nasceu em Betsaida, Galiléia. Tal como o seu pai e o irmão o apóstolo João, era pescador no Mar da Galileia, onde trabalhava com André e Simão Pedro (Mateus, 4, 21-22, e Lucas, 5, 10).
Tiago, Pedro e João seriam, de resto, os primeiros a abandonar tudo para seguirem Jesus como seus discípulos (Mateus, 17, 1 e 26, 37; Lucas, 8, 51), tendo sido dos seus mais próximos colaboradores.
No evangelho de Mateus, conta-se que a mãe de ambos, Tiago e João, Salomé, em seu orgulho materno, pediu a Jesus que seus dois filhos, Tiago e João, fossem colocados um à direita e outro à esquerda, no Reino de Deus, porém Jesus lhe objetou:"Vós não sabeis o que pedis.
Podeis beber o cálice que eu hei de beber?", Os apóstolos responderam: "Podemos". "Pois bem, isso é verdade, concluiu Jesus, mas dar-vos o primeiro lugar no Reino, isso depende do meu Pai, que está no céu".
Segundo Marcos (3, 17), Tiago e João são chamados por Jesus como «Boanerges», isto é, Filhos do trovão.
Isto se deu pelo fato que caracterizou a índole dele e de seu irmão João: ao chegar Jesus com sua comitiva à terra dos samaritanos, estes lhe interditaram a entrada.
João e Tiago viram, neste fato, uma afronta a Cristo e exprimiram sua indignação com estas palavras: "Queres, Senhor, que mandemos cair fogo do céu sobre esta cidade, para consumi-la?"
Jesus, porém os repreendeu dizendo: "Vós não sabeis de que espírito sois! O Filho do Homem não veio para perder, mas para salvar as almas" (Lc 9,54).
Segundo a bíblia é um dos discípulos mais íntimos de Jesus de Nazaré, já que em várias ocasiões onde Jesus só se fazia acompanhar por 3 apóstolos, era ele escolhido, junto a Pedro e João. Assim se deu na Transfiguração no Monte Tabor, por ocasião da ressurreição da filha de Jairo, e no Monte das Oliveiras, pouco antes da prisão de Jesus.
Tiago é citado entre os testemunhos da terceira aparição de Cristo após a sua morte e ressurreição, nas margens do lago de Tiberíades.
Pouco mais se sabe acerca sua vida. A sua última aparição no texto bíblico mais aceito é a de que foi o primeiro apóstolo a morrer, e teria sido mandado decapitar por ordem de Herodes Agripa I, rei da Judeia, cerca do ano 44, em Jerusalém.
É, aliás, o único apóstolo cuja morte vem narrada na Bíblia, nos Actos dos Apóstolos, 12, 1-2 («Ele (Herodes) fez perecer pelo fio da espada Tiago, irmão de João»).
Muitos são os que creêm que Santiago tenha visitado a província romana da Hispania e pregado a doutrina cristã, logo após o episódio de Pentecostes.
Na cidade de Saragoça, teria presenciado uma aparição de Maria, mãe de Jesus, que ainda vivia. Tal aparição, em cima de um pilar, originou o culto de Nossa Senhora do Pilar.
Devido ao insucesso em evangelizar os pagãos da Península Ibérica, Tiago teria regressado à Judeia, onde foi martirizado.
Os locais que teria passado incluem Braga, a Galiza, na Espanha e Guimarães e Rates na Póvoa de Varzim.
Segundo uma tradição, o seu corpo teria sido então transportado para a Espanha e sepultado na Galiza, no lugar de Compostela, depois chamado em sua honra de Santiago de Compostela.
No entanto, não há provas que permitam corroborar esta tradição.
Certo é que em 814, na Galiza, um eremita de nome Pelaio, seguindo uma revelação que tivera durante o sono, descobriu um túmulo contendo umas relíquias.
A estas foram de imediato veneradas e associadas a Santiago, em virtude da lenda que afirmava que este se havia deslocado à Espanha para dar testemunho de Cristo.
Sobre essa tumba viria a ser erguida a Catedral de Santiago de Compostela.
Por isso mesmo, Santiago tornou-se o santo patrono, primeiro da Galiza, depois de toda a Espanha e o seu santuário em Santiago de Compostela tornou-se um dos mais famosos locais de peregrinação do mundo cristão, sobretudo na Idade Média.
O caminho de Santiago passou por isso a designar um conjunto de rotas, com albergues e hospitais dedicados aos peregrinos que cruzavam a Europa Ocidental até Santiago de Compostela, através do Norte da Espanha.
Ainda hoje, dezenas de milhares de peregrinos se dirigem anualmente a Santiago de Compostela, considerada a terceira cidade mais sagrada no cristianismo depois de Jerusalém e Roma.
De acordo com outras tradições, Santiago teria aparecido miraculosamente em vários combates travados em Espanha durante a Reconquista Cristã da Batalha de Clavijo, em 844, sendo a partir de então apelidado de Matamoros (Mata-Mouros).
Santiago y cierra España foi desde então o grito de guerra dos exércitos espanhóis.
Santiago foi também protetor do exército Português até à crise de 1383-1385, altura em que o seu brado foi substituído, oficialmente, pelo de São Jorge.
Na prática os soldados portugueses continuaram a invocar Santiago nos seus combates, tal como facilmente se pode verificar, por exemplo, lendo as descrições das Decadas da Ásia, de João de Barros.
Mais tarde, o escritor Cervantes registrou, no seu Don Quixote de la Mancha, que Santiago Mata-Mouros é um dos mais valorosos santos e cavaleiros que o Mundo alguma vez teve; foi dado a Espanha por Deus, como seu patrono e para sua protecção.
No contexto da Reconquista, a Ordem Militar de Santiago foi fundada precisamente para combater os muçulmanos, e a pertença à Ordem tornou-se uma grande dignidade. Mais tarde dividir-se-ia em dois ramos, um em Espanha, e o outro em Portugal.
Santiago é aceito como santo por todas as confissões cristãs. É festejado em 25 de Julho, nas Igrejas Católica e Luterana.
Os ortodoxos comemoram-no em 30 de Abril, os coptas em 12 de Abril, e os etíopes em 28 de Dezembro.
São Tiago ou Santiago, para além de Patrono da Galiza e da Espanha, é também o santo protetor de:
- dos cavaleiros,
- dos peregrinos,
- das peregrinações e dos caminhos;
- do exército espanhol;
- de inúmeras profissões: camionistas, chapeleiros, fabricantes de peles, tanoeiros, farmacêuticos, veterinários…;
- do Chile, da Guatemala e da Nicarágua, Colômbia, Cuba, México, Peru para além de inúmeras localidades ibero-hispanas;
- é também invocado para a prosperidade das macieiras e outras árvores de fruto
- e contra o reumatismo.
Na iconografia, Santiago possui três representações:
- Como apóstolo (em pé, descalço, de túnica, segurando a Bíblia);
- Como peregrino, sentado ou em pé, usando sandálias, túnica, chapéu, cabaça, manto, e aquele que se tornou o símbolo de Santiago por excelência – a vieira (chamada concha de Santiago), a qual era usada frequentemente pelos peregrinos nos seus chapéus ou mantos – assim como um cajado, para auxiliar os peregrinos nas suas difíceis viagens por montes e vales.
- Por vezes surge como cavaleiro, representado em um cavalo branco com uma espada em uma das mãos e um estandarte na outra. Essa devoção surge após a Batalha de Clavijo, em 844. Ao longo da Idade Média passa a ser conhecido como Santiago, o matamouros. A cruz com ponta de adaga torna-se um de seus símbolos.
- Na conquista hispânica na América, vê-se que a quarta devoção devoção a São Tiago Maior. A iconografia de mata-moros será readaptada, surgindo a figura de Santiago Mata-índios, que se tornará símbolo da conquista tanto de corpos quanto de almas no Novo Mundo.