Ainda em recuperação da tendinite na canela, decidi que andaria pouco nessa etapa, então a escolha mais certa era de chegar a Cernache, dezoito quilômetros de Rabaçal.
Poderia tentar chegar a Coimbra, mas seriam mais doze quilômetros a mais e isso poderia piorar a minha situação. O importante que esses doze quilômetros poderiam ser feitos facilmente no dia posterior.
Infelizmente, por ser baixa estação, a pousada de Rabaçal não disponibilizou o pequeno-almoço, mas esse problema foi resolvido no Café Bonito ao lado da Igreja, torradas, suco de laranja e um café com leite. É claro que aproveite a oportunidade e comprei alguns suprimentos para a caminhada do dia.
De volta ao Caminho Português, as setas seguem pela N347-1 e logo em seguida à direita após o Cantinho da Clotilde. Pode-se notar a presença da sinalização da GR 26 e que segue por outra rota, mas ambas se encontrarão um pouco mais a frente na própria N347-1.
Aliás, a sinalização vermelha e branca da GR-26 aparece em vários trechos do Caminho Português. Para o peregrino que já fez outra rota rumo à Santiago de Compostela não é nenhuma novidade, mas para aquele que está indo pela primeira vez, já é outra história!
Essa sinalização percorre toda a Europa e na maioria das vezes seguem em direção à Santiago de Compostela, digo na maioria das vezes por que na França o mesmo tipo de sinalização indica outras rotas. No Caminho Francês tem a GR-65 e a sinalização pode ser vista principalmente na travessia dos Pirineus.
Enfim, mesmo que o peregrino decida não seguir as setas amarelas num certo trecho e decida seguir a sinalização da GR-26, ainda assim estará no Caminho Português, pois em vários trechos a sinalização diverge ou simplesmente some.
Tenha sempre em mente que por mais que se tente ser fiel as setas amarelas às vezes é mais interessante seguir a sinalização da GR-26, cabe ao peregrino qual a rota tomar, pois o “Caminho só se faz caminhando!”
Enquanto isso, e independente da rota que o peregrino escolher, chega-se a Zambujal, pequeno vilarejo que possui o seu charme, com cafeteria, fonte de água potável e uma praça com vários bancos para descanso, não que o peregrino precise, mas pra que a pressa quando se tem bastante tempo para caminhar?!
A Igreja Paroquial fica logo abaixo seguindo a sinalização, mas dependendo do horário poderá estar fechada. É nessa praça em frente à Igreja que a sinalização da GR-26 e as setas amarelas divergem mais uma vez, enquanto as setas amarelas seguem para a direita a sinalização da GR-26 segue em frente e dobra a esquerda mais a frente, o que traz certa dúvida quanto a sua direção.
Então, aconselho seguir as setas amarelas a partir da Igreja de Zambujal onde seguem em direção a N347-1, em seguida por uma estrada com algumas curiosidades sobre o Caminho Português e nesse trecho transformada em Rua de Santiago.
De acordo com as informações escritas em uma pintura em azulejos, diz que “de acordo com peninsular, Santiago apóstolo de Cristo, desembarcou no Sul da Ibéria e deslocou-se para a Galiza, atravessando terras da atual Freguesia de Zambujal”...
No mínimo informação muito interessante! Outras informações históricas são colocadas à disposição do caminhante nesse trecho do Caminho Português em outros painéis de azulejos ao longo da “Rua”.
Não muito distante chega-se ao Museu Monográfico de Conímbriga, onde ficam as ruínas e museu com as descobertas arqueológicas da Villa Romana de mesmo nome.
Infelizmente não há desconto para peregrinos no preço do bilhete de acesso, 50% de desconto para estudantes e idosos, e gratuito no 1º domingo de cada mês. Mas vale a pena a visita e o valor de € 4,50 não é muito para ver um pouco da história tão bem preservada.
O Museu possui uma lanchonete/ cafeteria bem convidativa onde é possível comer algo e visitar o banheiro antes de seguir viagem até Cernache, 7 km mais a frente.
Depois de caminhar quatro quilômetros no museu e nas ruínas, a caminhada até Cernache passa rápido, um pouco mais de uma hora e o peregrino já se encontra nas ruas do vilarejo.
Cernache não é diferente das outras vilas, possui toda a estrutura necessária para o caminhante, lanchonete, bares, restaurantes, mercado, farmácia, caixa eletrônico e um novíssimo albergue para peregrinos.
No guia que eu carregava comigo dizia que havia a possibilidade de pernoite no Colégio da Imaculada Conceição, administrado pelos Padres Jesuítas, mas com o novo albergue acredito que essa possibilidade esteja descartada.
O albergue foi aberto em 2015, conta com 14 camas (sete beliches) distribuídas em dois quartos, também possui dois banheiros, geladeira, micro-ondas, local para lavar e secar a roupa, atendendo tanto os peregrinos de Santiago quanto aos peregrinos de Fátima.
Fica localizado na Rua Álvaro Anes 37, em frente a um pequeno mercadinho, abre às 14h00 e fecha as 22h00 como de costume aos albergues de peregrinos e funciona através de donativo, então sejamos generosos em nossa contribuição.
Se chegar muito cedo ou se o albergue estiver fechado é possível entrar em contato através dos telefones: 968034708, 917619080, 963085335, 963408666 disponíveis no site do albergue no Facebook.
No meu caso perguntei ao dono do mercado e o mesmo entro em contato com o hospitaleiro, aguardei alguns minutos bebendo uma Super Bock gelada enquanto ele chegava.
Devidamente alojado e com as roupas lavadas é hora de procurar um local para almoçar, fiquei sabendo que uma das especiarias locais é o Porco Alentejano, também conhecido como porco ibérico, então eu fui atrás da especiaria.
Recomendaram-me seguir para o Moleirinho, uma padaria, pastelaria e restaurante na mesma rua do albergue. O local estava cheio e o cheiro do porquinho tomava conta do ambiente. Pude ver como o prato era feito, um pequeno leitão inteiro colocado para assar.
Após a refeição é hora de repor os mantimentos para o pequeno almoço e sanduíches para a etapa seguinte, uma garrafa de vinho e chocolate também vem a calhar, afinal final de semana é pra comemorar.
O clima também estava começando a mudar e a caminhada até Coimbra seria de sol, o que era um alívio!
No caminho para o albergue encontrei com duas senhoras peregrinas, ambas americanas, estavam à procura do albergue, então as guiei até lá. A porta do albergue abre com a digitação de senha, o que é bastante prático para o hospitaleiro e para o peregrino.
Conseguimos entrar em contato com o hospitaleiro que autorizou a entrada e instalação das peregrinas, enquanto isso, eu me preparava para um cochilo. No final do dia compartilhamos a garrafa de vinho e o chocolate, enquanto conversávamos sobre o Caminho Português.
Uma das peregrinas, Tereza, havia começado desde Lisboa como eu. Encontrou a segunda, Sallete, que já havia terminado o Caminho Francês em Tomar. Após as duas visitarem o Santuário de Fátima, elas decidiram seguir juntas até Santiago pelo Caminho Português.
Assim é no Caminho de Santiago, amizades se iniciam como uma jornada, um objetivo em comum, uma paixão verdadeira pelo Caminho. De certa forma, todos nós seguimos até Santiago e nos encontraríamos mais vezes depois dali.
Outras etapas e dificuldades estarão à espera, mas uma coisa é certa no Caminho... Você nunca está só! Próxima etapa, Coimbra.