A noite foi tranquila no alojamento dos Bombeiros Voluntários, estava sozinho mais uma vez. As peregrinas americanas ficaram num hotel em Oliveira de Ázemeis, haviam conseguido um preço especial para peregrinos com o gerente do hotel num quarto duplo.
As opções de hospedagem em Oliveira de Ázemeis são poucas, além dos Bombeiros Voluntários somente um hotel quatro estrelas, 60 € quarto duplo com pequeno-almoço incluso, e uma Pensão familiar que não possui muita informação on-line.
Como a recomendação é apoiar os serviços prestados pelos Bombeiros Voluntários aos peregrinos, fiz questão de ficar ali, local simples, limpo, calmo, bem localizado e principalmente, barato!
Após acordar com as batidas dos sinos da Igreja estava na hora de partir em direção a Grijó, local onde foi aberto um novo Albergue de Peregrinos e que fica aproximadamente a trinta quilômetros de Oliveira, caminhando em média a quatro quilômetros por hora, então o melhor a fazer é começar cedo.
Joaquim Donário, hospitaleiro de Albergaria-a-Velha, tinha dado as dicas das três etapas anteriores à cidade do Porto, a diferença da programação sugerida pelo guia que carregava comigo, era de em vez de ficar nos Bombeiros Voluntários de Oliveira de Ázemeis, ficar nos Bombeiros Voluntários de São João da Madeira e em seguida, partir direto para o Porto.
São sessenta e sete quilômetros em duas etapas, pode ser feito? Pode! Mas se dá pra dividir essa quilometragem em três etapas... Por que não aproveitar do Caminho Português?! Dessa forma as etapas ficam mais leves e prazerosas. Enfim... opções!
Antes de partir pra estrada o peregrino deve procurar algum local para o pequeno-almoço e as opções não faltam nas cercanias dos Bombeiros. As setas amarelas aguardam em frente à Igreja Matriz indicando a direção da Catedral de Santiago de Compostela.
As setas seguem pelas ruas asfaltadas de Oliveira de Ázemeis em direção a Santiago de Riba-Ul e parecendo que de brincadeira cruza com a estrada de ferro por três vezes até chegar à pequena Ponte Medieval de Salgueiro, local marcado pelo imenso hórreo e placa indicativa. É necessário sair do traçado para enxergar os detalhes da ponte que tem suas raízes no séc. XIV.
O peregrino agora segue para o povoado de Cucujães, onde é possível visitar a Igreja de São Martinho com sua bela fachada.
“Tudo indica que esta Igreja foi incendiada e destruída no fim do séc. X pelas hordas sarracenas, na invasão de Almansor. Tal como outros templos, a Igreja de Cucujães provavelmente foi reconstruída nos princípios do século XI, quando o povo cristão a conseguiu recuperar com a ajuda dos reis de Leão e de outros cavaleiros cristãos.” (fonte: Site de Oliveira de Ázemeis)
O peregrino agora segue para a localidade de Faria e mais uma vez cruza com a linha férrea. Antes de seguir ladeira acima pela Rua de Cucujães, convido o peregrino a uma parada estratégica na padaria da esquina com a rotatória, até esse ponto já foram percorridos pouco mais de oito quilômetros.
Aos poucos as setas amarelas chegam aos arredores de São João da Madeira, localidade com bastante comércio e todo o tipo de serviço. Os Bombeiros Voluntários de São João da Madeira acolhem os peregrinos, acontece que o quartel é um pouco fora do Caminho, mas não deixa de ser uma opção para pernoite.
A cidade é bem grande em comparação aos pequenos povoados e há outras opções de hospedagem com preços variando de 25€ a 60€, pontos marcados no mapa do Google acima.
As setas passam em frente à Igreja Paroquial de São João da Madeira, construída em 1884, impõe-se pela sobriedade das suas linhas arquitetônicas, pela grandeza e solidez. No interior existe uma enorme riqueza em talhas douradas com motivos iconográficos e esculturais. Atrás da Igreja passava a via militar romana de Talóbriga e Lancóbriga.
Poucos quilômetros depois e o peregrino chega ao vilarejo de Arrifana, onde mais uma vez o destaque é para a Igreja Paroquial. Além da fachada decorada com a arte em azulejos em seu interior encontra-se uma belíssima Pia Batismal e uma bela decoração no seu altar.
A etapa chega quase a sua metade quando o peregrino chega ao vilarejo de Santo Antônio, quinze quilômetros rodados até aqui. Nessa localidade o peregrino tem a opção de visitar o Castelo de Santa Maria da Feira, acontece é que o castelo fica a quatro quilômetros de distância e fora do trajeto oficial.
As opções de transporte são poucas, mas possíveis, auto-stop (carona) é aconselhável para ganhar tempo e economizar energia. A visita vale a pena pela conservação do Castelo. Um traçado alternativo foi elaborado no Google Maps com a mesma distância desde Oliveira de Ázemeis.
Após Santo Antônio, as setas seguem pela primeira vez na etapa pela estrada nacional IC-2 por pelo menos dois quilômetros, onde após passar na frente do Hotel Feira Pedra Bela e suas bandeiras, segue por alguns quilômetros pela antiga estrada romana e que ainda é possível caminhar por alguns trechos bem conservados.
As setas voltam a seguir pela IC-2 por pelo menos quinhentos metros e mais uma vez pega um desvio a direita, onde em seguida cruza com a IC-2 na localidade de Ermil. A guarnição dos Bombeiros Voluntários de Lourosa que fica as margens da IC-2 também acolhem os peregrinos e estão localizados um pouco mais atrás (ver no mapa).
Antes de chegar nesse ponto já é possível encontrar com algumas placas indicando a distância para chegar ao Albergue de Grijó. Não sei se a idéia das placas é boa ou ruim, pois a cada nova placa encontrada parece que a distância só faz aumentar e o cansaço também.
Voltando para o Caminho Português, esse ponto me pareceu um pouco confuso o desvio, mas vi a necessidade de efetuar o desvio da IC-2 que é muito movimentada nesse trecho, com a rotatória e cruzamentos mais a frente. As setas levam o peregrino a passar por baixo do viaduto da A-41, essa mesma que cruza com a IC-2.
Agora falta pouco para chegar a Grijó, pois as setas deixam para trás o Distrito de Aveiro e entra oficialmente em terras do Porto. Todo o percurso agora é para baixo e com a ajuda da gravidade chega-se em Grijó, onde o peregrino recebe as boas vindas de Santa Rita em sua pequena capela azulejada.
O Albergue de Peregrinos de Grijó fica ao lado do pequeno Café-bar Mosteirinho, se as portas do albergue estiverem fechadas o peregrino pode pegar informações ali sobre o funcionamento do albergue.
Como estava em baixa estação e o albergue estava fechado quando ali passei, as informações eram que as chaves do albergue estavam na Oficina que funciona ao lado e que o hospitaleiro passaria na manhã seguinte para carimbar as credenciais.
O senhor que custodiava as chaves me convidou a participar do jantar com a sua família, comida caseira típica portuguesa, com vinho, pão e sobremesa onde a ajuda de custo seria de 6€. É claro que não pensei duas vezes e disse que estaria presente no horário marcado.
Quando cheguei ao albergue às peregrinas americanas já estavam ali e me apresentaram ao um novo peregrino, este da Espanha. O albergue conta com quatorze camas nos dois andares, recepção, cozinha, tanque para lavar roupa, sala de convívio, instalações sanitárias com água quente e local para montar tenda de campismo.
Mas antes de o peregrino deixar a sua mochila e relaxar, o convido para uma rápida visita ao Mosteiro de São Salvador de Grijó e que fica a menos trezentos metros do albergue, infelizmente fecha cedo e abre um pouco tarde, então a oportunidade de conhece-lo é única.
Após a visita é chegada a hora de relaxar e aproveitar a comida típica portuguesa com uma família típica portuguesa. Experiência muito especial que valerá a pena!
Agora é relaxar um pouco, pois a próxima etapa chega-se ao Porto!