Após despertar com a movimentação dos Bombeiros Voluntários e hora de partir. Se o peregrino tiver algo na mochila para o café da manhã, pode utilizar as dependências da corporação, caso contrário é necessário voltar ao centro da vila para tal.
É claro que esse foi o meu caso, o que não posso reclamar, pois tive a oportunidade de obter algumas informações de hospedagem em Ansião.
Quando passei em frente ao restaurante e hospedaria Estrela na noite anterior, seguindo as recomendações do guia, vi que o mesmo estava fechado e em reforma. Mas, não reparei que em frente ao restaurante havia uma cafeteria e padaria com o mesmo nome, na verdade com o nome “Nova Estrela”.
Quando entrei para pedir o “pequeno almoço”, a senhora que me atendeu disse que havia me visto no dia anterior e que quando saiu para me chamar já era tarde, pois eu tinha partido a passos largos e com a chuva ela imaginou que eu iria para os bombeiros voluntários.
Contou-me também que ela e o marido eram os donos dos dois estabelecimentos, que o mesmo se encontrava doente e que ela mesma já havia se curado de um câncer no ano anterior.
Os dois eram devotos de Fátima e Santiago e por isso acolhiam os peregrinos em sua hospedaria do outro lado da rua. Contou-me muitas histórias, inclusive que não era muito comum passar peregrinos na época que estávamos já finais de outubro.
Isso é verdade, não é muito comum caminhar na época que escolhi, mas também é a melhor época, sem concorrência para pegar uma cama vaga, exclusividade na paisagem e um bom clima para caminhar, nem calor e nem frio, apenas a brisa e alguns dias de chuva.
Voltando para o Caminho Português as setas seguem em direção novamente aos Bombeiros Voluntários, mas antes de retornar ao Caminho, uma visita a Igreja Paroquial de Ansião para uma pequena oração e fotos.
Logo em frente aos Bombeiros há uma pequena área de recreação esportiva onde o peregrino encontra um pequeno marco e setas indicativas, como o que se encontra no alto Leopold no Caminho Francês, mas creio que as setas estão apontadas para as direções incorretas.
Depois de avaliar qual a direção a seguir, caminhei pela pista de corrida em direção ao Leste (direita) e quando a mesma se encontra com a N-348 é possível ver novamente uma seta amarela.
A partir daí não há mais dúvidas qual o Caminho a seguir, pois a sinalização está bem nítida e bem regular.
Como eu estava de volta ao Caminho Central Português e com uma grande dor na canela devido à tendinite, decidi andar menos e descansar mais. Então a minha decisão foi seguir até Alvorge, 12 km de Ansião conforme o guia.
A estratégia era chegar a Santiago a pé, nem que fosse com dois meses de caminhada. O tratamento, após uma pequena consulta on-line com uma amiga fisioterapeuta, foi definido com alongamento antes, durante e após as etapas, Ibuprofeno para a dor, gelo, massagem com Diclofenaco em gel, complementando com o emplastro de Diclofenaco a noite.
Realmente eu havia esquecido os alongamentos e talvez por isso estivesse sofrendo o desgaste da caminhada. Quando fiz o Caminho do Norte tive as mesmas dores, mas já muito próximo de chegar, dessa vez foi no início, o que pra mim era bastante preocupante.
Pelo menos uma coisa iria melhorar de Ansião em diante... A quantidade de locais para pernoite aumentam bastante, então nada de caminhar 30 quilômetros para achar um local para descanso.
Agora o ritmo pode diminuir e as etapas divididas pela metade, conforme a recuperação retornar as etapas definidas pelo guia novamente. Enfim as possibilidades eram muitas a partir de Ansião, poderia até a definir as minhas próprias etapas.
Com muito tempo para caminhar e poucos quilômetros para percorrer a ideia agora era desfrutar do Caminho Português, particularmente senti que a paisagem também havia mudado bastante, muito mais natureza e detalhes que antes não havia percebido.
Frutas exóticas, cogumelos de todas as formas e tamanhos, árvores imensas que antes eram ignoradas agora já podiam ser vistas com mais detalhes. Consegui até fazer algumas consultas on-line com os amigos peregrinos de outros caminhos para saber do que se tratava tanta novidade.
Talvez as longas etapas do início sejam culpadas pela tendinite, ou o esquecimento de fazer os alongamentos, ou a falta de hidratação... Muitos motivos, mas a culpa mesmo era minha, afinal quem é o peregrino aqui?!
Agora era hora de adaptar o planejamento e tentar chegar a Santiago antes do frio chegar, pois parece ironia, mas como os Lord Snow sempre fala na série Game of Thrones, o inverno está chegando, e aí às coisas pioram muito, principalmente para os pés!
Mas não era hora de antecipar esses pensamentos e sim de andar. A etapa foi facilmente vencida em três horas e meia até a entrada do albergue.
Houve uma pequena parada na entrada do vilarejo de Alforge para pegar a chave do albergue e informações da próxima etapa.
Incrível como as coisas acontecem no Caminho, mas parei no Café Cruzeiro para comer algo e fazer perguntas e por coincidência era ali que se encontravam as chaves do Albergue de Peregrinos de Alvorge, que fica ao lado da Igreja Paroquial.
Após o registro e o devido carimbo na Credencial do Peregrino fiz a reserva para almoçar por ali, não que tivesse muitas opções no vilarejo, mas como fui muito bem recebido achei que ali era o lugar para fazer uma boa refeição.
O albergue não fica muito distante do centro da vila, além das setas indicativas também havia a sinalização indicando o caminho para a Igreja Paroquial.
Sendo o único peregrino por aquelas bandas pude escolher uma das oito camas. Um pouco mais tarde, apareceram dois peregrinos vindos de Santiago de Compostela indo em direção a Fátima, o que é comum no Caminho Português, peregrinos em ambas as direções.
O albergue conta com uma boa estrutura, além das camas, conta com chuveiros quentes, uma sala de jantar com micro-ondas, local para lavar e secar roupas no lado de fora do albergue, uma bela vista para apreciar o final de tarde e aceita donativos.
O albergue parece que é novo, foi aberto em 2013, e como se encontra no meio de uma etapa não é muito usado, ou seja, é novíssimo!
Após fazer as tarefas de peregrino, separar a cama, lavar roupa e tomar banho, é hora de retornar para o centro do vilarejo para almoçar.
O Café se chama Cruzeiro em referência a Cruz que se encontra no meio da Praça principal, ao lado se pode encontrar um caixa eletrônico e um minimercado, não é muito, mas pelo tamanho do vilarejo é o bastante.
O almoço pode-se dizer que também é muito pelo preço cobrado, ainda não tem Menu de Peregrino, mas se quiseres fazer um pedido similar o valor ainda fica abaixo dos 8€.
Não há muito pra se ver no vilarejo, ainda mais se a Igreja Paroquial estiver fechada, mas o pôr do sol sentado na frente do albergue é uma das imagens mais bonitas que tive o prazer de presenciar até ali.
É claro que o tempo também tem que ajudar, minha sorte durou apenas alguns minutos, pois a chuva voltava a cair.
Para uma etapa tão curta, foi bastante coisa que vi. Não sei se por me preocupar menos com a quilometragem, sem estresse, sem correria, apenas eu e o Caminho. Acho que era isso que estava me faltando, entrar em contato com o ritmo do Caminho e esquecer um pouco todos os planejamentos, deixar fluir.
Talvez assim as dores na minha canela melhorem, o inchaço diminua e eu consiga caminhar normalmente. De qualquer forma andarei pouco na próxima etapa, pois até Rabaçal não muitos quilômetros e por lá também tem algum tipo de hospedagem. É ver!
Próxima etapa Rabaçal, devagar e sempre, pois o Caminho se faz caminhando!