A diferença de um albergue de peregrinos e um quarto privado é gritante, não há o barulho noturno habitual de roncos, de abre e fecha porta do banheiro, do pessoal passando pra lá e pra cá, é uma maravilha e o sono chega muito mais rápido.
O problema é querer sair da cama, sabendo que vinte e oito quilômetros te esperam. Como não havia maneiras de driblar o percurso e me transportar diretamente para Vigo, só havia um jeito de resolver isso… Caminhando!
Guardei as roupas de passeio e coloquei as de caminhada, três dias de uso para que eu as lavasse. Como ainda possuo mais um conjunto de reserva, fica fácil administrar o cheiro nelas. É claro que a mesma coisa não acontece com as roupas de baixo, essas eu lavo todos os dias e como são de dry-fit secam mais rápido.
Baiona demora um pouco para acordar, as ruas as 07hs da manhã estavam vazias, para mim não importava, só precisava encontrar um local para café da manhã e foi só piscar os olhos que já encontrei um.
O maior problema era encontrar as setas amarelas, pois como havia percorrido todo o tempo pela costa na etapa anterior, acabei perdendo a localização delas e não fazia a menor ideia onde poderiam estar.
Mas, uma das características principais do Caminho de Santiago é que tradicionalmente passa em frente as Igrejas das cidades e nesse caso eu teria que encontrar a principal Igreja de Baiona.
Olhei no mapa que havia pegado no dia anterior, no Centro de Informações Turísticas, a procura da Igreja Paroquial de Baiona e vi que estava a poucas ruas do café, logicamente as setas estariam por lá.
Não caminhei nem duas quadras e já encontrei as "amarelas", a menos de cem metros da Paróquia de Santa Maria de Baiona e da Capela de Santa Liberata.
De acordo com a menina do posto turístico, havia um albergue em Nigrán (Ramallosa) e eu queria conhecer pra colocar as informações no site para os próximos peregrinos.
Ainda bem que eu não segui até esse albergue, não sei se foi sorte ter ficado em Baiona, mas o albergue de Pazo Pías estava fechado por motivos de obras. De qualquer forma tirei algumas fotos do jardim e conversei com o administrador, me disse que estaria tudo pronto para a próxima temporada.
Esse é o maior problema em peregrinar fora da estação, de Novembro a Março muitos albergues fecham justamente para realizar a manutenção dos refúgios, pequenas obras e férias dos hospitaleiros, então não há muito do que reclamar e sim de agradecer.
As setas amarelas seguem se afastando cada vez mais da Costa, num sobe e desce contínuo de morros. A alternativa é sempre paralela à carreteira, só que em condições muito mais difíceis e ladeira acima.
Em alguns locais se caminha sobre a calçada em outros se caminha em cima da faixa branca que demarca a pista, tendo que muitas vezes se desviar ou até parar para que os carros passarem.
Em certo momento surgem umas setas verdes juntamente com as setas amarelas, essas setas indicam a direção para o Albergue de Peregrinos de O Freixo, então se você tiver a intenção de encontrar o albergue da etapa não pense duas vezes e sigas as setas verdes.
No meu caso, continuei seguindo as setas amarelas, pois só descobri que não havia albergue de peregrinos em Vigo quando cheguei lá, então já era tarde!
Ainda não há nenhuma referência de albergue em Vigo pelas minhas pesquisas, apenas alguns Hostals com preços acessíveis e os Irmãos Missionários que acolhem os peregrinos, todos assinalados no mapa.
Só fui descobrir toda essa informação mais tarde, então se o peregrino decidir ficar em Vigo... Siga as setas verdes, mas lembre-se que o albergue fica longe do centro da cidade.
As setas amarelas seguem a maior parte da etapa paralelamente a PO-552, às vezes até por ela e já é possível ver que o fluxo de carros aumenta bastante quando se aproxima da entrada da cidade de Vigo, que fica ao passar por baixo da carreteira VG-20.
Nesse ponto eu tinha certeza que o cara que pintou as setas amarelas por ali não gostava de peregrino, isso porque as setas iam para o lado contrário da cidade.
As setas amarelas seguem por mais um bosque, por mais uma ladeira e por mais um cruzeiro. A fome já estava apertando depois de oito horas de caminhada, é possível encontrar muitas opções de bar pelas cercanias de Vigo e entrei no primeiro que vi.
A moça que me atendeu estava sorrindo da minha situação, praticamente morto. O rapaz que estava no balcão me olhou e disse: "Respira que falta pouco... Só mais oito quilômetros até o centro de Vigo"!
Eu pensava comigo... Ele só pode estar de brincadeira! É... Ele realmente não estava!
As setas amarelas seguem pelas ruas de Vigo até chegarem próximas ao centro. Fui perguntando sobre algum lugar barato para me hospedar naquela noite e me indicaram que haveria alguma coisa próxima a Plaza de España.
O Albergue eu não vi, mas indicações de hotéis e do informador turístico estavam estampadas numa placa ali. Como não havia mais para onde correr fui atrás do informador turístico próximo à estação de trem, era só seguir direto pela Avenida de Gran Via.
Ao chegar à praça da estação descobri que não havia mais o informador turístico, mas pude ver que ao redor da praça haviam muitos hotéis e dei sorte, pois encontrei um Hostal por €18, quarto privado com banheiro. Não estava mal!
A vantagem de ter ido até Vigo é que sendo uma grande cidade eu poderia resolver o meu problema de conectividade, pois o chip de Portugal não funcionava na Espanha, isso estava atrapalhando um pouco a comunicação e o funcionamento dos aplicativos.
Encontrei uma loja Orange ao lado de uma da Vodafone, onde escolhi a melhor relação custo/ benefício, além de um Shopping Center para comprar uma sandália para trecking já que as etapas daqui para frente seriam quase que um passeio.
O Hostal Nosso Lar não era muito bem apresentável pela sua fachada, mas o interior era bem organizado, com internet Wi-Fi funcionando dentro do quarto, além de disponibilizarem toalhas de banho.
A vizinhança do Hostal também merece um elogio, pois na Rua Urzaiz você pode encontrar uma variedade de bares e restaurantes, coincidentemente encontrei um restaurante com o nome de “Peregrinus”.
Boa comida, bom preço, selo na credencial e a informação que precisava ter, umas cinco horas atrás, sobre o albergue de peregrinos de Freixo onde as danadas setas verdes indicavam a direção.
Fiquei um tempo absorvendo aquela nova informação, pois isso teria encurtado a etapa em pelo menos uns oito quilômetros, além de economizar pelo menos uns €10 na hospedagem.
Olhando para o lado positivo da etapa, a verdade é que a partir de Vigo são menos quilômetros para se caminhar até Redondela, o que sobra mais tempo para descansar e lavar as roupas.
De todo o modo a etapa terminou ao sabor de um bom churrasco e algumas canecas de cerveja já que essas são as especialidades do restaurante. Então não há do que reclamar e sim agradecer por mais uma etapa bem sucedida!
Próxima etapa Redondela, onde os Caminhos Portugueses se encontram!